Nenhuma infecção respiratória é tão comum quanto o resfriado. Por causa dele, cada adulto cai de cama, em média, quatro vezes por ano. As crianças, até dez. Era de esperar que a medicina já soubesse como tratar mal tão corriqueiro. Mas não sabe. O resfriado continua a desafiar os médicos. Os remédios existentes servem apenas para o alívio dos sintomas. O que de mais próximo existe para o tratamento do resfriado é um produto lançado em 2005, na Europa, e que está prestes a chegar ao Brasil. Fabricado pela Procter&Gamble e batizado de Primeira Proteção, ele chama atenção pela simplicidade de seu mecanismo de ação. Não se trata propriamente de um remédio, já que não tem substância ativa. Sob a forma de um gel, ao ser inalado, adere à mucosa nasal, como se plastificasse a região. Dessa forma, o gel inativa o vírus e facilita a sua excreção. De acordo com os estudos clínicos realizados até agora, o produto consegue reduzir a duração do resfriado dos habituais sete dias para metade do tempo. "Mas esses resultados só são atingidos se o dispositivo for usado, no máximo, até 48 horas depois do aparecimento dos primeiros sintomas", disse a VEJA um dos médicos que participaram desses estudos, o pneumologista Ronald Eccles, do Centro de Resfriado da Universidade de Cardiff, no País de Gales.
Os primeiros sinais do resfriado aparecem sob a forma de dor de garganta, espirros, coriza e febre baixa, entre dez e dezesseis horas depois da infecção. Como essas manifestações costumam ser leves, as pessoas tendem a não lhes dar a devida atenção. É justamente nessa fase que o gel tem efeito. Quando a infecção atinge o período mais agudo, não há muito que fazer, além de amenizar os sintomas com os remédios clássicos. "Outro entrave ao tratamento do resfriado é a dificuldade que a maioria das pessoas tem em diferenciar o resfriado da gripe, ainda que sejam doenças completamente diferentes", diz o geriatra João Toniolo, professor da Universidade Federal de São Paulo. Ao contrário do que ocorre no resfriado, os sintomas da gripe aparecem subitamente. Uma pessoa está gripada se, além de febre média para alta, apresentar pelo menos duas das seguintes manifestações: dor muscular, mal-estar generalizado e tosse.
A gripe é uma infecção mais perigosa do que o resfriado. A doença pode ter conseqüências fatais, sobretudo para as crianças e os idosos, o que não ocorre com o resfriado. O vírus gripal é mais agressivo e suscetível a mutações. Ele se multiplica numa velocidade superior e é mais tóxico para as células humanas – o que contribui para que os sintomas da gripe sejam mais intensos do que os do resfriado. Os remédios antigripais como oseltamivir, vendido sob o nome comercial de Tamiflu, inibem a proliferação do vírus, impedindo-o de sair da célula onde está alojado para contaminar outras. Como acontece com o gel anti-resfriado, o Tamiflu só é eficaz se administrado quando surgem os primeiros sintomas da gripe.

Fabíola Sampaio

Docente de Biologia